Por que decorar letras não significa aprender a ler

Em palestra realizada no dia 17 de setembro,, Juliana Storniolo, diretora de ensino da FourC Bilingual Academy, trouxe uma reflexão essencial para a educação contemporânea: aprender a ler e escrever não pode ser reduzido ao simples ato de juntar letras e formar palavras. É preciso ir além da decodificação, formando leitores e escritores capazes de compreender, criar e transformar a realidade.

Com o público formado por pais e responsáveis da comunidade FourC, Juliana explicou que o processo de alfabetização deve ser entendido como parte de uma cultura de pensamento, na qual o aprendizado é profundo, conectado e duradouro.

“Eu posso juntar as letras e vocês acharem que eu estou lendo, mas isso, na nossa visão, não é ler e escrever. É apenas decodificar. Ler, de fato, é compreender, produzir com qualidade e se virar em qualquer lugar”, destacou.

Juliana Storniolo, diretora de ensino.

Essa visão se apoia em anos de estudos e práticas pedagógicas inspiradas no Project Zero, grupo de pesquisa da Universidade de Harvard que defende a educação como espaço de compreensão e de formação de pensamento crítico. Juliana lembrou que pensar exige tempo e que a pressa, muitas vezes presente nas comparações entre escolas e entre crianças, pode comprometer a profundidade do aprendizado.

A importância do tempo e da singularidade

Ao abordar a alfabetização, Juliana ressaltou que cada criança tem um percurso singular. A leitura e a escrita não acontecem de forma natural, mas por meio de estímulos planejados e significativos. Por isso, comparar processos ou acelerar etapas pode gerar ansiedade e limitar a aprendizagem.

Ela ilustrou essa ideia com uma metáfora: aprender a nadar. Há quem aprenda apenas para “se virar” na piscina, mas também é possível aprender a nadar para mergulhar fundo, enfrentar correntezas e explorar com segurança. O mesmo vale para a leitura: é possível ensinar de forma superficial, mas o verdadeiro objetivo da FourC é formar leitores que mergulhem nas ideias, questionem e construam significados.

Do conteúdo à cultura de pensamento

Para Juliana, o papel central da escola está em estimular as funções executivas: planejar, questionar, interpretar e articular ideias. Ou seja, é preciso desenvolver competências cognitivas que tornem os alunos capazes de lidar com problemas reais, em diferentes contextos.

“Não existe aprendizagem sem pensamento. A escola precisa criar contextos de confiança, nos quais haja espaço para perguntas, erros e experimentações. É nesse ambiente que o aluno desenvolve perseverança, criatividade e autonomia”, afirmou.

Formação para o presente e o futuro

Juliana reforçou que o compromisso da escola é formar cidadãos preparados para atuar no presente e no futuro, em um mundo de informações abundantes e em constante transformação. Mais do que decorar fórmulas ou acelerar etapas, o essencial é cultivar a capacidade de compreender, interpretar e criar.

“Ler não é natural, mas pode se tornar transformador. Quando a escola ensina a pensar, ela dá ao aluno as ferramentas para escrever a própria história”, concluiu.

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